A história ocorre em um contexto
de pandemia que está assolando toda a humanidade. De súbito, sem explicação os
sentidos se dissipam. Não se trata de uma narrativa sobre zumbis ou qualquer
outra coisa do tipo. O processo de perda dos sentidos é usado como metáfora
para suscita problemas existências.
Os primeiros sentidos a serem
perdidos são o olfato e posteriormente, o paladar. Está perda se dá após um
episódio de uma tristeza profunda em função de uma perda. Sem nenhuma outra
evidência que pudesse justificar o fato, até porque na verdade está não é está
à intenção do diretor. O que está em jogo é: será que serei acometido por tal enfermidade?
Ou melhor, será que serei acometido por uma perda tão profunda que ela irá
destituir uma parte de mim?
Não há resposta para tal questão,
uma vez que a dor é inerente a nossa existência em alguma medida, estaríamos
fadados a assim a perder o olfato e paladar que dão “sabor” a vida. Sem eles
tudo fica insosso. Perdemos parte de nossas lembranças que estão associadas à
experiência do cheiro ou do gosto.
Certa vez escutei uma definição –
bem limitada e simplória – de que o sentimento é responsável por fornece colorido
às lembranças, os sentidos são uma forma de atenuar e trazer a tona o material
mnemônicos. Acho que é inevitável dizer que cada memória está associada a um nível
de prazer ou desprazer.
Neste processo de perder o olfato
e paladar as personagens são desafiadas a descobrir uma nova forma de
resignificar o ato de se alimentar, não só é encarado com uma necessidade básica,
como obrigatoriedade de ingerir carboidratos e lipídios, mas se faz necessário
encontrar neste ato uma forma de apreciação que será direcionado então para o
sentido da audição.
Isto demonstra não apenas a nossa
capacidade adaptativa e criativa, mas a necessidade de atribuir uma qualidade
estética as coisas. A preocupação como com o que é se alimentar bem é
substituída pelo prazer, a questão deixa de ser tão importante que vemos Susan
e Michael se deliciando ao experimentar creme de barbear e sabonete em barra.
Outra questão interessante é
promovida por Michael, que próximo a ser acometido pela doença tem como sintoma
o ódio. Ele vocifera eloquentemente contra Susan pronunciando uma série de
fatos que intencionalmente a magoa. O interessante disto é verificar o
posicionamento que ele assume ao tentar se desculpar. Ele procura se isentar de
sua responsabilidade culpando a doença por ter tomado aquela atitude.
Penso em quantos subterfúgios
escolhemos para não nos tornar responsáveis por nossas ações e que são aceitos socialmente . E me pergunto
ainda como Michael não poderia ser
responsável por tudo àquilo que anunciou sendo que conhecia que os dizeres
teriam uma implicação negativa para sua companheira. É difícil negar que de
alguma forma este ato de concretizou de um projeto consciente.
Enfim o filme levanta questionamentos sobre o sentido da
vida coletivamente, demonstra a rede de significados que estruturam nossa vida
e no fundo não tem sentido. As condutas que orientam nossas vidas são como os
sentidos, nos orientam e posicionam no mundo, sem eles nos deparamos em
profundo caos.
Sinopse: http://www.imdb.com/title/tt1439572/